Mesmo com todos os olhares voltados para ela, todos os amigos e cartões recebidos, todas as cantadas e companhias, havia naquele rosto angelical um olhar vazio. Não se sabe bem o motivo, mas não era apenas um olhar. Era uma sensação de fome, como um lobo a procura da caça. Ela queria, ela desejava sangue. Talvez todas aquelas pessoas ao seu redor, todas as risadas na mesa do jantar e os cartões de presente não fossem suficientes para ela. Havia algo de errado. Era incomum mesmo com todos os caminhos que levavam para o ‘perfeito’, era incrontrolável. Seu corpo pedia por mais, suas veias pulsavam, era fácil perceber a agitação do sangue, aqueles olhos a espreita. Já não havia mais vontade de fugir. ela procurava por algo que fosse diferente, inovador, perverso. Eles davam a ela coisas encantadoras, que todo mundo sempre sonhou ter. Mas ela não ligava. Isso não alimentaria sua sede, sua fome e desejo. Decidiu por si só tentar a sorte e procurar. No meio do caminho ela experimentou doces saborosos, picantes, venenosos… Alguns fizeram mal, mas ela não ligava, aprendeu como lhe dar com eles. Era só mais alguns e passaria. Mas com o tempo, eles não matavam mais sua fome, ela queria mais. Tinha a certeza de que não havia encontrado ainda alguma coisa que fizesse sentido, que a preenchesse por dentro. Então em uma noite fria ela decidiu sair. Correu o mais longe que pode, era assustador, era delicioso. A sensação de liberdade passando entre seus cabelos, batendo de frente com seu rosto, palpitando em seu peito. Era a sensação que ela não tinha antes, mas ela queria mais. Voou para longe, conheceu o desconhecido, soube cair e se reerguer depois das batalhas.
Num certo dia ela se cansou da liberdade, cansou de sentir o gosto dos venenos que antes a agradavam tanto. Um certo dia ela amadureceu. Achou que precisava de mais, mais e mais. Bem mais do que toda a liberdade que ela tinha. Ela então partiu novamente, procurando o que ainda não tinha nome. Meses de busca e resolveu desistir. Sentada no canto de uma mesa na taberna, seus olhos seguraram algo que ficava cada vez mais perto, seu coração palpitava cada vez mais rápido. Ele parou em sua frente, educadamente se apresentou à ela. E ela soube então, o nome da ‘coisa’ que procurou tanto, por tanto tempo, pela primeira vez.
Seu conto me lembrou uma frase muito conhecida de Clarice Lispecto: "Liberdade pra mim é pouco o que eu quero ainda não tem nome"
ResponderExcluirA busca por algo que desconhecemos é sempre cheia de misterios, espectativas, fracassos e sucesso.. mas nada se compara com o sabor de encontrar o que realmente procuramos..
um grande abraço!